Mundo cada dia mais barulhento está gerando perdas auditivas irreversíveis, alertam especialistas!

O barulho, e não a idade, é a principal causa da perda auditiva. A menos que se tome providências imediatas para proteger os ouvidos, mais cedo ou mais tarde muitos enfrentarão dificuldade para entender até mesmo simples conversas.

Essa perda auditiva permanente pode ser causada pelos barulhos do dia a dia que nós consideramos como fatos normais da vida.

“A triste verdade é que muitos de nós somos responsáveis por nossa própria perda auditiva”, escreveu Katherine Bouton em seu novo livro, Shouting Won’t Help ( Gritar não Ajuda, em livre tradução).

A causa, ela explica, é “o barulho a que nos submetemos dia após dia”. Embora haja inúmeros regulamentos para proteger as pessoas que trabalham em ambientes barulhentos, há relativamente poucos regulamentos sobre a exposição repetida ao ruído fora do ambiente de trabalho: tocadores de música portáteis, shows de rock, secadores de cabelo, sirenes, cortadores de grama, aspiradores de pó, alarmes de carros e outras fontes incontáveis.

Nós vivemos em um mundo barulhento, e ele parece ficar mais barulhento a cada ano. Os ouvidos são instrumentos frágeis. Quando as ondas sonoras entram no ouvido, fazem o tímpano vibrar. As vibrações são transmitidas para a cóclea, no ouvido interno, onde um fluido as carrega para fileiras asseadamente organizadas de células ciliadas. Estas, por sua vez, estimulam as fibras nervosas, cada uma sintonizada em uma frequência diferente. Esses impulsos viajam através dos nervos auditivos até o cérebro, onde são interpretados como, por exemplo, palavras, música ou um veículo se aproximando.

Os danos a esse aparato delicado resultam tanto do volume quanto do tempo de exposição ao som. Barulhos muito altos, ou exposições crônicas ao som, mesmo que não seja particularmente alto, podem causar danos nas células ciliares, fazendo com que elas fiquem desordenadas e se degenerem.

Nascemos com um número fixo de células ciliares; uma vez que elas morrem, não podem ser substituídas, e a sensibilidade auditiva é perdida de forma permanente. Geralmente, a sensibilidade a sons de alta frequência é a primeira a desaparecer, seguida da incapacidade de ouvir as frequências da fala.

Além disso, os efeitos da exposição ao barulho são cumulativos, como Robert V. Harrison, especialista em audição da Universidade de Toronto (Canadá), observou recentemente na revista The International Journal of Pediatrics.

Embora comecemos com um excesso de células ciliares, com repetidos ataques barulhentos, um número suficiente delas é destruído para prejudicar a audição. Portanto, os danos às células ciliares ocorridos no início da vida, como acontece com muitos músicos do rock e com fanáticos por shows de rock, podem aparecer na meia-idade como uma dificuldade em entender as conversas em volta.

O volume do som é medido em decibéis (dB), e o nível no qual o barulho pode causar perda de audição permanente começa em cerca de 85 dB, típicos de um secador, um processador de alimentos ou de um liquidificador.

A perda auditiva depende muito mais de como você protege o ouvido ao longo da vida do que do envelhecimento do corpo, apontam especialistas

Michael D. Seidman, diretor de otorrinolaringologia no Hospital Henry Ford West Bloomfield, em Michigan, sugere algumas medidas para evitar a perda de audição no futuro:

Use plugs de ouvido para secar o cabelo ou cortar a grama com um cortador a motor, e para tapar as orelhas quando um veículo de emergência passa com a sirene alta. Proteção de ouvido é uma necessidade para pessoas que usam armas de fogo, assim como para pessoas que dirigem moto ou usam sopradores de neve ou de folhas, furadeiras ou serras elétricas.

Usando fones de ouvido, nunca ouça música no volume máximo. Alguns tocadores de música portáteis produzem níveis de som no ouvido compatíveis com os de um jato decolando. Se você ouve música com fones de ouvido interno ou externo em níveis que bloqueiam as conversas normais, você está, na verdade, liberando golpes letais para as células ciliares dos seus ouvidos, explica Seidman.

Leia com atenção os avisos na embalagem de seu fone de ouvido ou tocador de música. Com grande frequência as pessoas aumentam o volume para não ouvir os ruídos ao redor. Um plano melhor é ajustar um volume máximo enquanto estiver em um ambiente silencioso e nunca passar dele.

Se outras pessoas podem escutar o que você está ouvindo, o volume está muito alto. Alguns aparelhos portáteis vêm com a possibilidade de programar um volume máximo, o que pode fazer o preço a mais valer a pena para pais preocupados em proteger os ouvidos dos filhos.

Se for usar fones internos de ouvido, escolha aqueles que se encaixam confortavelmente e nunca inseri-los muito apertados no canal auditivo. Como alternativa, quando você estiver sozinho e sem risco de perder sinais importantes do ambiente, como um carro que se aproxima, considere usar fones externos com cancelamento de ruído, que bloqueiam os barulhos externos e permitem que você ouça música em um volume mais baixo.

Até mesmo brinquedos feitos para crianças pequenas podem gerar níveis de barulho prejudiciais ao ouvido. A Associação Americana de Fonoaudiologia e Linguagem lista como perigos potenciais as armas de brinquedo, bonecas falantes, carrinhos com buzinas e sirenes, walkie-talkies, brinquedos de borracha de apertar, instrumentos musicais e brinquedos com manivelas. De acordo com a associação, algumas sirenes de brinquedo e brinquedos de borracha podem emitir sons de até 90 dB, tão altos como um cortador de grama.

Pais com audição normal devem testar os brinquedos que emitem sons antes de entregá-los às crianças. A recomendação é: Se o brinquedo soar muito alto, não compre.

Por Jane E. Brody – The New York Times

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